sábado, 31 de julho de 2010

Não há nada de concreto entre nossos lábios. Só um muro de batom e frases sem fim... Tudo se divide, todos se separam, nada é como parece ser. A diferença é o que temos em comum, como água e óleo, como sal e vinagre. Holofotes nos meus olhos, cegam mais do que iluminam. O escuro seria preferível, assim como o ódio é preferível à pena, ou a morte imediata é preferível à dor. Ninguém aqui está contente, ninguém aqui é culpado, ninguém aqui é inocente. Tanto que eu tinha pra falar, tanto que eu ouvi. Nem caiu e ficha, e já caiu a ligação. Eu estou esperando por uma resposta concreta, algo que me faça seguir em frente, algo que me faça matar, e morrer. Uma conclusão palpável, visível aos olhos. Entre raios e trovões, terremotos e vulcões, eu continuo respirando, continuo toda cortada por você.
Mas quem sabe... quem sabe eu inventei você, do jeito que achei melhor. Mas esqueci que era vida real. Não tinha crédito final.

domingo, 25 de julho de 2010

Espere até a última gota de sangue escorrer dos olhos e pise fundo nesse acelerador.
Esqueça todas as lembranças boas, prefira as ruins.
Busque conforto em facas e canivetes, em venenos e cigarros, repita tudo de novo.
Um drinque, uma dose de heroína, seja covarde.
Cutuque todos os machucados com bastões em brasa, marque-se por inteiro, como um boi que vai para o abate.
Escreva seu nome no livro-negro da morte, sinta o câncer dilacerar seu pulmão, beba muito café, beba muita vodca.
Mate-se, mate-se, mate-se.
Pulsos sangrando, tudo tão clichê. Olhos que matam, mesmo sem querer. Escudos que movem-se contra o protegido. Lábios de sangue, anjos caídos.
Como num pequeno diálogo:"Você tá se matando!", "Então me deixa morrer."
Falas desconexas, pensamentos impulsivos, gritos lacinantes.
Prove-me que estou errada, sempre escondi os meus erros. Me faça de idiota, termine com seus tormentos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

You're so tired, but I can't control myself

Uma lata de cerveja me faz companhia numa noite solitária. Como a boa covarde que sou, vou sentindo este suicídio masoquista, enquanto tento acender mais um cigarro, outro pedacinho de morte.
Talvez um café?
Não, nada de cafeína.
Um chá, talvez?
Céus, acho que preciso dormir.
Um sorriso maligno toma conta da face no ato da escrita, como se um exorcismo estivesse prestes a acontecer. Mas nem todos os demônios do inferno, ou todos os anjos do céu, me fariam mudar de idéia agora.
Deus, Diabo... Tão sedutor.
E se eu ouvisse o que você tem a dizer? Você iria embora, me deixaria, ou insistiria nessa mentira? Buscaria prazer no ódio, na dor, tão intensa e louca, tão movimentada nessa noite, cheia de adrenalina e de nada pra dizer?
Tão cheio de vazio, tão cheio de...
Oh, são riscos a correr, você sabe. E é tão gostoso ficar preso nessas ilusões, tão irreal e tentador.
Entregue-se a mim querido, como um bêbado se entrega à bebida, como eu me entrego à escrita, meu vício irreal. Tantas palavras perdem-se enquanto penso, tantos pensamentos atropelam uns aos outros, tanta coisa pra viajar, tanta coisa pra esquecer...
Desabar...
Escorregar nessa faca de dois lados, escolher o errado por acreditar, não que é o certo, mas que é o prazeroso... Entregar-se à essa loucura descomunal, sem pensar, mergulhar de cabeça num erro, gostar de solidão. Gostar disso, ah, eu não consigo me controlar, o som dessa guitarra enlouquece, mata.
Loucuras, é, eu gosto disso.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Protect me from what I want

Uma histórinha escolhida:
"-Sempre estas reticências, nunca um ponto final. Tudo foi longe demais, tudo saiu de controle, tudo ficou fora de lugar. Não é como  se apenas uma picada não fosse resolver tudo, mas a consciência do ato covarde me impede de fazer a mesma coisa de novo. As palavras abandonaram-me, me deixaram nesses delírios enlouquecedores, com esses sussurros gritantes que me deixam surdo.
-Como é?
-Como se cortar para ver o sangue escorrer, como beijar de olhos abertos, como roubar alguém poderoso. Sentir adrenalina o tempo todo, sentir o sangue pulsar, o coração estar vivo, os olhos lacrimejarem. Uma página de um livro ainda em branco, que é escrita e apagada, para começar tudo de novo. Tudo novo. Um lugar para cair, um remédio que te faz dormir, uma solidão hereditária. Uma doença que te consome por inteiro, que te faz sentir tudo ainda mais intensamente, que faz você correr, não para se esconder, mas para o combate, para a morte.
Curve-se para a morte, venha morrer.
- O que mais?
- Sempre a neura, sempre a abstinência, sempre querendo mais. Um viciado em dor, em sentir carne queimar, sangue escorrer. Não, isso não é uma confissão, um ato de desabafo, uma tentativa de obter perdão. Eu escolhi viver assim, menina, eu fui meu Deus no meio de todo esse inferno. Eu, e só eu, fui corajoso para fazer o que todos tinham vontade. Consegue ver as cicatrizes? Há muito que não uso roupas abertas, há muito que não saio à luz do dia.
- Você tinha medo?
- De morrer? De jeito nenhum. Todos os caminhos que escolhi quase me levaram à morte, e nunca pensei nela propriamente. Eu gostava de sentir ela bem perto, e de escapar, como um gatuno esperto que sabe o que faz. E realmente sabia, não? Hoje estou aqui, vivo, para contar-te esta anedota! Mas deixe-me alertá-la: são histórias antigas, histórias de um velho que há muito esqueceu o que era viver. Histórias de quem sentiu o coração bater por anos e anos, mas que agora não é nada mais do que uma carcaça, um corpo sendo consumido pelo tempo. Sempre vivi à beira do penhasco, sempre soube que era ali, entre a vida e morte, que tudo valia à pena. Nunca escondi o que eu sentia, nunca poupei gemidos de prazer, ódio, amor, paixão, nunca me poupei sequer de morrer. E continuo morrendo, dia após dia, enquanto forneço esse amor morto.
- E quando tudo isso acabar? Quando sua consciência te abandonar, acha mesmo que tudo vai ter valido a pena?
- Quando acabar? Ora minha cara, não seja cega. Já acabou! Enquando te conto uma história, outros estão lá fora, fazendo exatamente o que eu fazia há 50 anos atrás; Bem, suponho que vocês sejam os jovens agora."
Uma despedida.
A notícia de um suicídio. Em câmera lenta.
E para você, o que significa realmente viver?

domingo, 18 de julho de 2010

The world is a vampire (like, like a venom)

Estátuas me olham enquanto caminho, me seguem como fantasmas, como sombra.
Seria pura imaginação?
Olhos castanhos, tão doces, tão puros, tão intensos na chuva que lava meus pecados, um pedaço de paraíso dentro do inferno.
Foi tão, tão fácil criar um escudo e me manter dentro dele todo esse tempo, tão fácil afastar todo mundo e esquecer. Mas os olhos perseguem o tempo todo, nada os apaga, nada os impede de machucar, invadir, machucar.
Como um Midas oposto, destruo tudo o que toco, mato todos que amo. Estúpidos aqueles que ainda insistem, que teimam em errar de novo, que buscam-me, mesmo na morte.
Lágrimas de crocodilo se formam, tentam convencer, mas elas são enganadoras demais, opostas demais ao sentido das palavras que saem da boca, percorrem os olhos e escondem na alma. São rostos marcados de sangue, do meu sangue, assassinato após assassinato, crime após crime. Sem culpa, sem regra, sem desculpas, sem amor.
É tudo tão contraditório, tudo tão ilusório, está tudo tão perto de mim. Eu vejo cada milimetro dessa dor imutável, cada célula que se move ao redor desse globo de problemas. Essa esquizofrenia real, esses monstros imaginários, esses olhos perseguidores. Um cubo de pensamentos, que batem nestas paredes fechadas e cruzam-se o tempo todo, como  imãs maléfico, dispostos a condenar.
Mas essa dor, essa dor é real; tão real quanto a chuva que cai, tão real quanto estas estátuas, tão real quanto todos os problemas.
Cada situação arranca um pedacinho, e até quando terei pedaços para ser arrancados? Tantas promessas quebradas, tantos fios cortados, tantos espaços vazios que não podem mais ser preenchidos. É um longo tempo de espera, tempo demais, tempo morto.
Estas mãos que lhes escreve agora, senhores, são mãos que matam, que destroem tudo, o tempo todo. São mãos manchadas de sangue inocente, mãos experientes, que já agem inconscientemente, puro hábito mórbido. E esse sorriso que vos engana, é a última coisa que podem ver, um sorriso que vai se transformando num esgar à medida que vai matando, à medida que obtêm mais e mais sangue.
Digam-me agora, senhores: Depois de tantos avisos, conseguem se manter longe?
Eu duvido.

domingo, 4 de julho de 2010

Uma assassina, é isso que sou. Uma fugitiva em busca de mais e mais corpos, um monstro que busca violência. Com o que eu pareço? Com o mágico de Oz? Você precisa de um cérebro? Pegue o meu. Pegue tudo de mim. Me estraçalhe, me corte, me esconda, mas não me deixe cometer os mesmos erros de novo. Não espere que eu esqueça tudo o que fiz, tudo que passei, para seguir adiante. Não espere que eu siga meus instintos, que eu ceda a meus caprichos insensatamente, que eu busque mais ódio enquanto me despedaço dentro desse cubo. São todos estranhos sem rostos, olhares medonhos de ninguém, é apenas vazio.

Eu sou o vazio.