domingo, 30 de maio de 2010

A little piece of heaven




Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional

que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta
Clarice Lispector

sábado, 29 de maio de 2010

Eu fui levada a acreditar que tudo daria certo. Mesmo com todos os indícios dizendo o contrário, a esperança, falsa, fingidora, estava ali, mais forte, poderosa.
E eu cai, cai, cai, cai de novo, caí todas as vezes. Como um anjo desonrado, desci e permaneci no chão, fui embora e me machuquei, busquei forças e não encontrei.
Fugi de lugares, deixei de ouvir sons, parei de ver fotografias. Os sorrisos morreram, as vozes silenciaram, os amigos desapareceram.
Que dia o pesadelo acaba, pro sonho começar?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Essa é a estaca final. Não há mais nada adiante, nada para prosseguir. É tudo absurdamente finito, como se viver já não fosse ruim o bastante, ainda temos que morrer...
Deveríamos simplesmente não existir. Não nascer, viver ou morrer. Não ocupar espaço nos lugares e nas vidas das pessoas, não se ocupar com ninguém, pelo simples fato de ser o ninguém.
E então não sentiríamos mais dor...Não existiriam buracos. Nada de lágrimas para chorar, não afundaríamos mais no travesseiro em noites solitárias, abafando gritos e soluços.
Qual é o preço disso?
-Eu estou disposta a pagar.
E onde está o meu copo de cerveja?
-Em qualquer esquina, qualquer bar.
Estou tão cansada de ficar parada no mesmo lugar... Fugir dava a sensação de movimento, mas e agora?
Esse mau agouro não me abandona; agora,creio que vou morrer.

terça-feira, 18 de maio de 2010

"Risos infernais,vozes que gritam,estranhos sem rosto...."
Escola. A mesma melancolia de sempre,a mesma chateação. Os rostos dos professores mudam, mas a falação e os pedidos são os mesmos. Adolescentes insuportáveis pensam que são os donos do mundo, tão presunçosos e imortais.
Bate a vontade de fumar, de ir embora. Voltar pra casa, ver um filme qualquer, sentir nicotina nos pulmões, morrer engasgada com fumaça. A saudade,porém, prende, sufoca, inferniza.
É esse o futuro,então? Um bando de pessoas sem nada pra fazer,um cara sentado na cadeira pedindo silêncio para as paredes?
Há o fato da discórdia nesse ponto, entretanto. Há a intuição de que nada disso é necessário, tudo pode ser facilmente resolvido. Basta abandonar tudo, esquecer. Acender o desejado cigarro, sentir seu gosto adocicado, sorrir.
Um sorriso pequeno,sincero,feliz.
E a melancolia invade os sentidos novamente, assim como a vontade de fugir e deixar tudo pra trás...
Mais um cigarro,e talvez outro, talvez mais alguns...
E fogo,fogo,fogo...

domingo, 16 de maio de 2010

How does it feel?

Hey,você!
O buraco já está aberto,por que continua cavando?
Hey,olhe pra mim!
Estou falando agora, consegue me escutar?
Fuja com suas mentiras deslavadas,vá embora antes que seja tarde
Salve-se, busque refúgio nas sombras, seja mais um rato do mundo
Corra para a mamãe, corra para o papai, eles te esperam no portão
Com panquecas e roupas limpas
-Oh, quanta hipocrisia!
Grite para ser ouvido!
Lute para conseguir!
Você não sabe o que é o mundo,não venha com lições de moral
Estou me arriscando e perdendo tudo, e não me importo se isso te parece radical.
Quantos túmulos tem visto, quantas igrejas tem visitado?
Mil estátuas de pedras, todas em ruínas
Não se espelhe nos meus atos,eles são muito diferentes dos seus
Procure seus amigos,oh,onde eles estão?
Suas ironias e olhares descrentes
Seu riso sarcástico, milhões de perguntas esperando respostas
Finja o quanto quiser,
mas morrer NÃO dói.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre os dias

Não há mais nada que falar, pensar ou ouvir sobre isso. Não há mais ninguém aqui.
Você pode, por favor, me enterrar junto com meu passado?
Há um buraco aqui, um buraco que você deveria estar.
Eu posso, por favor, te enterrar junto com o seu passado?
O fundo do poço é paciente, esperado, previsível. Não há nada para temer, há somente o nada, o vazio. O intruso aqui é o medo, e a coragem tenta afastar.
- Como é morrer?
Eu não saberia dizer.
- O que isso significa?
Eu não poderia te responder.
Essa ligação entre corpos, essa compreensão entre mentes, esses sentimentos entre corações... Qual é o valor disso? De que importa respirar?
Essa maldita estrada não tem fim, a felicidade não existe coisa nenhuma. Há somente lapsos em que a mente esquece da dor, há distrações que privam os olhos de lágrimas. As lembranças são apenas substituídas por outras lembranças. O ciclo nunca muda.






Essa é minha rotina particular.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um punhado de folhas secas jaz em minha mão. Despedaço-as, pensando vagamente que meu coração poderia estar ali e ninguém perceberia a diferença, tamanha era a semelhança do ato de despedaçar.
Um soluço incômodo brota na garganta, ansioso, querendo se libertar. A quietude é tão intensa e desejada que não ouso quebrá-lo com minhas manhas e caprichos. O barulho da chuva é meu único amigo no momento, e eu penso em como seria bom se isso durasse por um tempo infindável.
Não há mal nenhum na solidão; Ela acalenta,como uma mãe preocupada. Ela não te abandona. Te dá paz.
Por que as pessoas não a buscam,então?
O ser humano parece achá-la deprimente; não conseguem ver a beleza por trás da melancolia, não entendem o seu real significado. Não vêem a sua imortalidade, a sua poesia.
Felizes são aqueles que são solitários por natureza; conseguem entender a essência de tudo, sabem apreciar, amar.
Felizes aqueles que se conhecem, e que sabem conviver consigo mesmo, passando assim a ignorar todasas fraquezas humanas.
Felizes aqueles que são seus próprios heróis.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma tempestade de sons está vindo de lugar nenhum.
Um pedaço de inferno, meu pedaço de morte. Meu abrigo está longe, não há casa em lugar nenhum, não há nada que eu possa chamar de lar.
Já perdi o controle, a razão não existe mais. Estou quebrando todas as regras para me sentir bem, e estou fazendo isso exatamente como quero.
Nada de dor, nada de melancolia, nada de lágrimas.
Ah, se eu pudesse me sentir sempre assim!...
Por um momento, por um único e curto momento, eu voltei a ser feliz.