quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lembranças

  Sinto tanta falta da dor... Era mais digna do que essa falta de sentimentos, esse vazio que eu tento preencher todos os dias e não consigo. Não lembro mais sequer como era sentir. O passado está mais distante do que deveria, está escapando da ponta de meus dedos, está indo embora. E tudo o que tenho agora são as lembranças, se eu perdê-las, o que sobrará?
  Há restos de comida na sala, garrafas vazias e maços de cigarro amassados no quarto, camisinhas usadas no banheiro, e não consigo me lembrar de nada disso. Ou sentir algo, seja nojo, incompreensão, raiva, culpa. Dor. Ah, dor... Como pode me abandonar, quando apostei todas as minhas fichas em você? Você era tudo o que eu tinha! Agora me diga, o que vou fazer com todo esse vazio que me consome? Que utilidade isso terá? Diga-me agora, dê-me um pouco de esperança, porque a realidade também tirou-a de mim. Dê-me mentiras que valem a pena ser contadas e recontadas, dê-me um pouco de tristeza, de sentido, e covardia. Dê-me coragem para ser covarde. Volte para mim... Eu lhe imploro. Há tanta verdade no escrito, silenciada nas entrelinhas por não ter mais onde ficar. Dê-me algo para escrever de novo. Dê-me algo concreto, minha cara, porque eu quero voltar a sentir.

Um comentário:

  1. Suas palavras remetem a sentimentos de corporeidade que constrangem qualquer forma de sentido que a vida poderia ter. Adorei
    A fúria da líbido

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