sábado, 10 de abril de 2010

Respire...apenas respire...Respire...

Os dedos pousam nas teclas, mas nenhum som sai. Ela fecha os olhos amargurada, triste. Uma melodia começa, mas não há nenhuma emoção ali. O piano segue as ordens de sua mestra, mas emana frieza, velhice. Retratos empoeirados na parede mostram uma felicidade há muito esquecida, há muito apagada, há muito... abandonada. Está anoitecendo, não há nenhuma luz no quarto, e as sombras se tornam cada vez maiores.
A melodia continua, e a pianista sorri um sorriso frio e distante, completamente sem vida. As lágrimas caem, peroladas e salgadas, mas ela não as sente, ou então se esforça muito para não sentir, porque ela está cansada das emoções, cansada de se entregar, de buscar e nunca alcançar, de sentir sozinha.
Aliás, para que sentimentos? Eles apenas machucam! A melodia se tornava mais agressiva a cada nota, e seus dedos poderiam sangrar, tamanha era a sua dor. Seu sorriso, no entanto, não desaparecia, porque ela aprendera a sorrir sempre, a mentir, fingir.
E ela tocava, chorava, sorria, pensava. Seu frenesi era intenso, libertador, incontrolável. A cabeça girava, e ainda sem abrir os olhos, foi suavizando a canção, até seus dedos tocarem uma última vez no amado piano. Chega de lembranças felizes.
Era tudo passado, e ela estava pronta para o futuro.

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