sábado, 2 de abril de 2011

    Um cigarro, depois outro, e outro. São tantos que já perdi a conta. A cabeça dói, o pulmão implora pra parar, e eu continuo matando tudo aqui dentro, porque não vale a pena salvar nada. Não tenho mais sentimentos. Não sinto mais nada. Nem mesmo dor. Por que continuar, então?
    A fome de viver anda tão grande que acho que nunca mais vou saciá-la. Todas as minhas escolhas me levaram à esse caminho, então não posso reclamar. Sequer me arrepender. Só o que posso fazer é sentir essa tontura gostosa que a nicotina me proporciona a cada tragada, a cada minuto mais próximo da minha morte, do meu inferno ou do meu paraíso. Quem sabe? Certamente, não eu, escritora de tantas histórias malditas, de tantos sentimentos falsos e de tantas visões mal-escolhidas. Posso me desconectar de tudo, mas o que eu vejo vai estar sempre na memória, esperando o momento de me atormentar, de me fazer escrever. Mas estou tão cansada de escrever. Tudo o que eu queria era me livrar desse vício, meu maior vício, pra poder ser normal. Fazer uma faculdade. Encontrar meu futuro marido em um dos corredores. Terminar meu curso. Casar. Ter uma casa cheia de plantas. Ter um filho aos 28. Mas eu nunca vou ter isso, porque a minha vida é escrever a vida dos outros. Quando, onde, isso teve algum sentido? Me sinto completa narrando, mas me sinto incompleta por não ser contada. Se é isso que chamam de destino, é uma merda. Destinos não deveriam existir. Destinos deveriam ser desculpas idiotas, ou cristãs, para simplesmente deixar tudo de lado, "deixar as coisas acontecerem". E sempre "acontece", porque eu nunca consigo mudar. Nunca consigo fazer minhas próprias escolhas, decidir o próximo passo. Estou sempre no escuro. Sempre fingindo que não estou me importando, mas tudo me atinge tão intensamente que não consigo suportar. Eu poderia mudar de planeta, e a droga desse tal destino me perseguiria. Provavelmente ele mesmo me mandaria para Marte,Vênus, Saturno. E eu continuaria escrevendo sobre os outros, e nunca sobre mim. E eu sempre me pergunto, as pessoas são fracas demais para escrever sobre si mesmas que precisam de mim, ou eu sou fraca demais para escrever minha própria história? Vivo o tempo todo de ficção, as pessoas são meus fantoches, meus personagens. Crio-as a partir de pensamentos insanos, me envolvo, abandono, parto pro próximo.
Mas, afinal, qual é a minha história?

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