domingo, 6 de março de 2011

   Tenho escutado seus gritos há tanto tempo... Não penso mais neles, acostumei-me, e assim tapei os ouvidos.
   Por que tudo parece mais alto agora?
   Há tanto para falar, mas ninguém para ouvir. Foi você que procurou isso, querido? Você que se jogou dentro desse abismo?
   E depois de tanto tempo tomando coragem para me contar, eu desistisse de ouvir sua história? E se depois de meses a fio suportando a dor, você finalmente morresse?
   Qual seria o preço da sua derrota?
   Palpites, palpites. Damos os nossos como lances num leilão, esquecemos a sensatez como num jogo com cartas marcadas. E enquanto eu te enlouqueço com minhas perguntas, o apocalipse queima o mundo lá fora, apagando todas as memórias, todas as insanidades. Me pergunto se nossos corpos serão os últimos a perecer e nossas almas, as primeiras mandadas ao inferno. Mas, honestamente, faz diferença? Já nascemos condenados. Já sabemos o nosso destino. E o aceitamos.
   Como porcos indo para o abate.

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